Iniciativa conseguiu definir focos e estabelecer metas e indicadores de desenvolvimento sustentável em completa sintonia com os objetivos do negócio.
Por Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos
Um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas que querem avançar
no rumo da sustentabilidade é estabelecer um plano que incorpore a
dimensão socioambiental no coração do negócio, isto é, que estabeleça um
nexo entre os objetivos socioambientais e os resultados econômicos e
financeiros que a empresa precisa alcançar. Fazer isso exige profunda
reflexão sobre o negócio, a conjuntura e o futuro comum que todos –
empresa e partes interessadas – vão compartilhar.
Um dos melhores exemplos de plano de sustentabilidade foi dado pela
Unilever. Ela conseguiu definir focos, bem como estabelecer metas e
indicadores em completa sintonia com os objetivos do negócio. Vamos
comentar algumas das principais informações que o plano traz.
O Plano de Sustentabilidade da Unilever busca três resultados significativos até 2020:
1 – Ajudar mais de 1 bilhão de pessoas a tomar iniciativas para melhorar sua saúde e bem-estar;
2 – Vincular seu crescimento à redução do impacto ambiental, obtendo
reduções absolutas durante a vida útil de seus produtos. A meta é
reduzir pela metade a pegada ambiental da fabricação e da utilização dos
produtos;
3 – Melhorar as condições de vida e trabalho de pessoas que fazem parte da cadeia de fornecimento.
O plano está projetado para reduzir os impactos em todo o ciclo de
vida dos produtos. Inovações e tecnologias serão fundamentais para
atingir essas reduções.
Plano de Ação
O Plano de Sustentabilidade da Unilever está centrado em três grandes
áreas: saúde e bem-estar, meio ambiente e melhores condições de vida e
trabalho.
Saúde e bem-estar é o ponto inicial. Ao promover uma boa nutrição e
uma boa higiene, os produtos têm um impacto positivo em dois dos maiores
desafios da saúde no mundo: a doença cardiovascular e a diarréia.
Com relação ao meio ambiente, a Unilever vai se concentrar na redução
dos gases de efeito estufa, no melhor aproveitamento da água, no
tratamento dos resíduos e em recursos agrícolas sustentáveis.
A escolha desses tópicos se deve aos seguintes fatores:
• Gases de efeito estufa (GEE): porque a
maioria dos produtos – sabonetes, xampus e itens de lavanderia – são
usados com água aquecida e, portanto, consomem muita energia.
• Água: porque é necessária em grandes
quantidades na cadeia de suprimentos agrícolas, e porque as pessoas
precisam dela quando utilizam quase todos os produtos da Unilever.
• Resíduos: porque a empresa compra mais de 2 milhões de toneladas de embalagem por ano.
• Recursos agrícolas sustentáveis: porque metade das matérias-primas é de origem agrícola e florestal.
Com relação a melhores condições de vida e trabalho, o foco estará no
mundo em desenvolvimento, no qual a empresa emprega indiretamente
centenas de milhares de pequenos agricultores e distribuidores.
O Plano de Sustentabilidade da Unilever define metas quantificadas e
com prazos para cada área. Para muitas delas, 2020 é o prazo limite, mas
é apenas um marco em uma jornada ainda mais longa.
As Metas do Plano
1. Melhorar a saúde e o bem-estar
Até 2020, a empresa pretende auxiliar mais de 1 bilhão de pessoas a
tomar atitudes para melhorar sua saúde e seu bem-estar, com foco em duas
vertentes: saúde e higiene; e nutrição.
• Saúde e higiene – A meta, até 2020, é contribuir para que mais de 1 bilhão de pessoas melhorem seus hábitos higiênicos e que
500 milhões de pessoas tenham acesso a água potável. Isso ajudará a
reduzir a incidência de doenças potencialmente fatais, como a diarreia.
Indicador: O número de pessoas atingidas de forma
cumulativa por uma intervenção que, com base em estudos anteriores, pode
resultar numa mudança positiva e constante de comportamento.
• Nutrição – Até 2020, a
meta é dobrar o portfólio de produtos que atendem aos mais altos padrões
nutricionais, com base em orientações alimentares reconhecidas
mundialmente. Isso vai ajudar centenas de milhões de pessoas a ter uma
dieta mais saudável.
Indicador: Percentual dos produtos que atendem aos
mais elevados padrões nutricionais, com base nas diretrizes nutricionais
reconhecidas globalmente para os quatro principais nutrientes: sal,
açúcar, gordura saturada e gordura trans.
2. Reduzir o impacto ambiental
Nesse aspecto, a grande meta da empresa é reduzir pela metade, até
2020, a pegada ambiental relacionada à fabricação e ao uso de produtos, à
medida que o negócio cresce, com foco na redução dos GEE, em eficiência
no uso da água, na redução de resíduos e no uso de recursos
sustentáveis.
• GEE – Reduzir pela metade o impacto dos gases de efeito estufa dos produtos, em todo o ciclo de vida, até 2020.
Indicador: Emissões de GEE associadas ao ciclo
de vida de um produto, com base na “utilização por consumidor” como,
por exemplo, o impacto de GEE ao se beber uma xícara de chá.
A linha de cálculo mostra que a fabricação e o transporte representam
apenas 5% dos impactos totais, enquanto o fornecimento de
matérias-primas e a utilização do produto pelos consumidores
representam, em conjunto, mais de 90%.
• Água – Reduzir pela metade o gasto de água relacionado ao consumo dos produtos, até 2020.
Indicador: Quantidade de água no produto, bem como a água
necessária para sua “utilização por consumidor”, como, por exemplo, para
uma lavagem de cabelo com xampu.
A análise destacou que aproximadamente 40% da pegada de água da
empresa é proveniente do processo de lavagem de roupa. Uma proporção
significativa disso é a lavagem feita à mão em países em
desenvolvimento.
• Resíduos – Reduzir pela metade os resíduos associados ao descarte dos produtos, até 2020.
Indicador: Peso em gramas do material da embalagem, bem como da
sobra do produto dentro dela. Foram utilizados índices nacionais sobre
reciclagem e reutilização, bem como uma medida com base na “utilização
por consumidor”, como por exemplo, o resíduo associado a uma porção de
sopa.
Por esse critério, verificou-se que embalagens de alimentos e de géis
de banho são as que mais contribuem para a pegada de resíduos. Todavia,
para alcançar a meta, todas as categorias terão de reduzir o
desperdício.
• Recursos sustentáveis – Até 2020, 100% das fontes de matéria-prima agrícola da empresa serão sustentáveis.
Indicador: Matérias-primas ou embalagens provenientes de fontes
renováveis e sustentáveis certificadas ou feitas de materiais
reciclados (% por peso).
3. Melhorar as condições de vida e trabalho
Em relação a esta meta, a Unilever pretende, até 2020, prover
melhorias nas condições de vida e trabalho de centenas de milhares de
colaboradores.
• Contribuição para o desenvolvimento socioeconômico – Até 2020, a empresa irá reunir mais de 500 mil pequenos agricultores e distribuidores em sua cadeia de suprimentos.
Indicador: Número de agricultores e de distribuidores (microempresários) que passaram a integrar a rede de suprimentos da Unilever.
• Local de trabalho – A empresa pretende, até 2020, reduzir
a “zero” o número de acidentes no local de trabalho. Quer também
diminuir em 50% a taxa de frequência de acidentes registrados em
fábricas e escritórios, comparada ao ano de 2008.
Outras metas relativas ao local de trabalho:
- Melhorar a saúde e a nutrição dos funcionários;
- Diminuir o número de viagens;
- Reduzir o consumo de energia nos escritórios;
- Reduzir o lixo produzido nos escritórios;
- Adquirir materiais de escritório de fontes sustentáveis
Prestação de contas
O plano será acompanhado pelo Grupo de Desenvolvimento Sustentável da
Unilever − composto por cinco especialistas externos em
responsabilidade e sustentabilidade corporativa –, cuja função é
instruir e criticar o andamento da estratégia de desenvolvimento
sustentável da empresa.
Os resultados do plano serão comunicados a cada três meses ao Comitê
de Diretores para Responsabilidade e Reputação Corporativa. Haverá
também um relatório público anual.
As metas estabelecidas pelo Plano de Sustentabilidade da Unilever estão sintonizadas com o que foi discutido na Rio+20 e com os Compromissos e Demandas para o Futuro Que Queremos,
que as empresas assumiram durante a Conferência Ethos Internacional
2012. Além disso, elas estão enquadradas nas questões trabalhadas pela Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, lançada em 2011 pelo Instituto Ethos e empresas parceiras.
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Fonte: Ethos
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