11 de mai. de 2011

Os resultados do Censo e os desafios para as empresas socialmente responsáveis

O IBGE está começando a divulgar os primeiros resultados consolidados do Censo 2010. Tais informações mostram apenas um esboço de país, mas já dá para verificar que houve algumas mudanças significativas, que trazem desafios para governos, para a sociedade e também para as empresas.

Está claro que o Brasil precisa de políticas públicas focadas nas carências que foram evidenciadas pelas estatísticas do Censo. As empresas podem e devem contribuir com essas políticas, adotando práticas de gestão que levem em conta esses dados. Com isso, poderão ampliar a competitividade e oferecer exemplos de ações que podem se transformar em políticas públicas e até mesmo embasar um novo modelo de economia, que seja inclusiva, verde e responsável.

Listamos a seguir alguns temas do Censo que podem ser alvo da gestão socialmente responsável.

População

O Brasil tem 190.777.795 pessoas. Em relação ao Censo de 2000, é uma população mais velha, mais feminina e menos branca. De acordo com os números, 47,7% se declaram brancos. É a primeira vez na história do Censo que mais pessoas passaram a se reconhecer como pretas (7,6%), pardas (43%) e amarelas (1,1%). Indígenas continuam sendo 0,4% da população.

O Censo também indica que existem 96 homens para cada grupo de 100 mulheres. Essa defasagem se explica pelo fato de a população estar mais velha e de os homens terem expectativa de vida menor que a das mulheres. A taxa de crescimento demográfico foi a menor da história: 1,17%. Em relação às faixas etárias, 24,1% da população são menores de 14 anos (eram 29,5% em 2000) e 7, 4% têm mais de 65 anos (contra 5,9% em 2000).

A partir desse recorte populacional, observa-se um grande desafio para as empresas brasileiras: ampliar a diversidade de seus quadros, em todos os níveis hierárquicos. De acordo com o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil, um estudo do Ethos em parceria com o Ibope, mulheres, negros e pessoas com mais de 45 anos de idade não têm a participação nos cargos no mesmo patamar de sua presença na sociedade. Incluí-las é um desafio porque exige a superação de paradigmas que ainda permeiam as políticas de recursos humanos. Nesse aspecto, há que se registrar um avanço, pelo menos, noticiado pelo jornal Folha de S.Paulo no final de abril: o emprego para maiores de 50 anos subiu 56% em oito anos. Pela falta de mão de obra mais qualificada e experiente, o mercado está contratando pessoas com idade acima de 50 anos, que vêm obtendo bom desempenho profissional nas atividades para as quais são contratadas.

Falta, agora, estabelecer foco na equidade de raça e de gênero. Políticas de diversidade nas empresas irradiam seus efeitos positivos para além dos escritórios e das fábricas. Tais efeitos chegam à sociedade, mudando comportamentos e cultura. Por isso, do ponto de vista da responsabilidade social empresarial, valorizar a diversidade é tarefa estratégica de qualquer gestor.

Urbanização

O Brasil tem hoje pouco mais de 84% de sua população vivendo em cidades, proporção maior do que nos Estados Unidos, que é de 82%. O esvaziamento da população rural põe em risco a própria viabilidade da agricultura, mesmo naquelas lavouras mais mecanizadas. As políticas sociais dos governos têm feito diminuir o êxodo para as cidades. Mas as empresas que atuam nas áreas rurais podem estabelecer projetos que garantam empregos durante o ano todo e também incentivem o empreendedorismo local como forma de ampliar no campo os serviços “de cidade grande”.

O professor Ignacy Sachs, um dos economistas que primeiro cunhou a expressão “desenvolvimento sustentável”, afirma que só existirá atividade rural sustentável no Brasil quando uma trabalhadora do campo puder frequentar uma manicure sem precisar viajar até a cidade mais próxima. A ampliação dos serviços para a população rural também servirá para atrair moradores da cidade para esses locais, num movimento migratório em sentido contrário, imprescindível para o desenvolvimento sustentável. As cidades brasileiras, principalmente as capitais, já estão no limite dos seus recursos para dar qualidade de vida à população. Em vinte anos, elas cresceram o equivalente a duas Xangais. Uma situação insuportável. É preciso encontrar alternativas atraentes de trabalho e renda para distribuir melhor a população pelo território.

Saneamento

Considerando-se todos os domicílios brasileiros, 55,5% deles são ligados à rede de esgoto, mas a porcentagem varia de acordo com a região do país. Projeção da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) indica que, a progredir no ritmo atual, o saneamento básico no Brasil só será universal em 2070.

A falta de saneamento prejudica a saúde pública e dificulta o crescimento dos negócios. Como se trata de investimento estatal, as empresas poderiam reforçar as demandas da sociedade civil para que os investimentos fossem destinados prioritariamente para este serviço essencial.

Renda

O Brasil ainda tem 16 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza; isto é, ganham menos de R$ 70 por mês. Esse segmento será alvo das políticas de erradicação da miséria que estão sendo elaboradas pela Presidência da República. No entanto, 60% dos domicílios brasileiros têm renda de até um salário mínimo (R$ 545). É preciso melhorar a renda dessas famílias, e o incentivo ao empreendedorismo pode ser a solução.

Algumas ações dependem do Estado, como facilitar a formalização das atividades que essas pessoas já exercem. Mas as empresas podem colaborar de várias maneiras, tais como:
- oferecer capacitação aos microempresários do entorno;
- contratar os serviços desses empreendedores, como incentivo à sua formalização;
- oferecer serviços que podem ser terceirizados a microempresários que atuam nos locais onde a empresa mantém suas atividades; e
- orientar a cadeia de valor a fazer o mesmo com seus fornecedores.

Educação

O Brasil ainda tem 14,6 milhões de analfabetos, ou 9% da população. Trata-se da menor marca da série histórica do Censo. Mesmo assim, ficam duas perguntas: 1) Aqueles que se declararam alfabetizados conseguem compreender um texto escrito ou apenas reconhecem palavras, sendo, portanto, analfabetos funcionais? 2) Por que o Brasil ainda não zerou o índice de analfabetismo?

Essas perguntas reforçam o foco que precisa ser dado, com urgência, à qualidade da educação no país, do ensino básico à universidade. A participação das empresas na solução dos problemas nessa área vai desde estabelecer como estratégia de negócio melhorar sempre o nível de escolaridade dos próprios funcionários, oferecer bolsas de estudo para a população e contratar aprendizes até participar ativamente de movimentos que buscam a melhoria da qualidade do ensino, como o Todos pela Educação. O próprio futuro do negócio fica ameaçado se a educação não for de excelente qualidade.

Conclusão

O Censo 2010 mostra um país com renda maior, infraestrutura mais ampla e melhor educação, mas ainda desigual. E isso aponta para a necessidade de se criar um modelo de desenvolvimento sustentável construído com a participação da sociedade, incluindo as empresas. Quantas oportunidades esse novo modelo poderá trazer!

Fonte: Instituto Ethos - Jorge Abrahão e Cristina Spera - http://tinyurl.com/3pxdmrx

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