14 de out. de 2010

Responsabilidade Total

Até onde a vista alcança, onde o mar debruça no desconhecido, as empresas buscarão o lucro e as políticas econômicas pavimentarão este caminho. Nos anos mais recentes, sobretudo dos anos 1960 e 1970 para cá, quando os limites do crescimento econômico apontaram no horizonte, novos conceitos surgiram.

Na sequência de movimentos sociais envolventes, de acentuado significado ético, o mundo foi se deparando com novas responsabilidades. Importantes conquistas foram possibilitadas por movimentos, como o de conquista dos direitos civis, notadamente do segmento da população de afrodescendentes.

Outros movimentos emancipatórios, como o de direitos das mulheres, de consumidores, ambientalista, de nova estética, anticolonizador, pacifista, pela mais ampla participação política e preservador da privacidade, revelaram também novas atribuições para as corporações empresariais e para as políticas públicas.

Entre avanços e retrocessos, ao resultado econômico, as empresas passaram a somar a consideração com os resultados ambientais e sociais, no processo de interação com diferentes públicos interessados, revalorizada.

No âmbito corporativo, alguns avanços e recuos significativos foram experimentados entre os anos 1980 e 1990. De um lado, brotou o movimento da qualidade, que resgatou a importância de alguns grupos de interesse, particularmente os enquadrados no conceito de clientela.

De outro lado, o ajuste estrutural, derivado das políticas públicas e empresariais de subtração de direitos trabalhistas, posteriores aos efeitos dos choques do petróleo de 1973 e 1979, expandiu-se nas famigeradas reengenharias, fusões ou incorporações.

Na atualidade da gestão empresarial, a busca de resultados deve ser feita através de processos de eficácia, mais do que de eficiência. Para além da produtividade, está o imperativo dos processos decisórios coletivos. Nestes, novas considerações estão presentes para se definir a melhor cesta de bens a ser produzida.

Entre as considerações, não podem ser desconhecidas as técnicas de produção utilizadas, em que a relação entre a reposição e a utilização de insumos deve obedecer a uma função crescente. Igualmente importante é considerar o ajuste entre a cesta de bens gerada na sociedade, segundo processos de decisão que incluam interesses da diversidade.

Assim, ao longo de algumas décadas, informação e decisão coletiva trouxeram até o presente a consideração e até mesmo práticas empresariais concretas de responsabilidade social e de sustentabilidade.

Na pauta das transformações que virão, outros conceitos precisarão ser definidos e praticados. É o caso da Responsabilidade Total. O acelerado processo de inovação tecnológica viabilizou novos processos produtivos, bens e serviços, nunca antes vistos.

A gestão de riscos, compartilhada entre corporações e sociedade, forma o tripé da responsabilidade total, juntamente com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Ela está contemplada na definição do desenvolvimento sustentável, como oferecida no relatório de 1987, da Comissão de meio ambiente e desenvolvimento da ONU, o relatório Brundtland, que prevê um novo processo de tomada de decisões.

As estratégias empresariais passam a incorporar as novas possibilidades, sem que a gestão acompanhe o ritmo das transformações. Aí reside um desafio dos mais dramáticos do cenário corporativo. As organizações continuam sendo, sem exceções significativas, autoritárias, como é inerente a qualquer gestão taylorista.

A gestão autoritária, que é estruturada por subordinação e por especialização, tornou-se um caso de saúde pública. Ela adoece e mata em larga escala, em todos os continentes. Não se trata do sadismo episódico de um ou outro cartola explorador. É a regra, está no seu DNA.

Este cenário corporativo não pode mais ser administrado da mesma forma como foi permitida, até aqui. A cada dia, outros elementos, de risco exponencialmente maior, estão sendo somados, como os derivados da biotecnologia, nanotecnologia, tecnologia da informação, genética, neurociências, demanda de energias, geração de resíduos tecnológicos e muitos outros.

É com a Responsabilidade Total que programas de responsabilidade social e de sustentabilidade poderão avançar, deixando de ser um "photoshop social" ou um "botox de sustentabilidade", epidérmicos, artificiais e meramente cênicos.

Fonte: Monitor Mercantil Digital - http://tinyurl.com/2ck556n

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