A maior parte dos programas de “limpeza verde” (green cleaning) se concentra na diminuição do uso de substâncias químicas de limpeza tóxicas. Ainda que a utilização de produtos cada vez mais "verdes" contribua para um ambiente de trabalho mais saudável, os diretores de empresas podem fazer muito mais do que isso.
Um programa completo de ações "verdes" engloba a visão de um sistema que inclua todos os aspectos da produção de materiais de limpeza, desde o plano inicial de utilização dos materiais de construção até o descarte desses materiais e a reutilização de todo o trabalho de manutenção nas instalações das empresas, incluindo equipamentos da cadeia de fornecimento. Não se trata de uma solução rápida, mas sim de melhoria contínua da limpeza verde como parte de um processo no longo prazo.
Em vez de nos focarmos somente em tornar os produtos de limpeza menos prejudiciais, voltemos ao início. Para definir objetivos para um programa desse tipo é preciso primeiro definir limpeza verde.
Definição de limpeza verde
Para que se tenha um local de trabalho com segurança e qualidade, é fundamental que ele seja limpo. Mas quem pode dizer o que é limpo? A limpeza está no olho de quem a vê e tem significados diferentes entre as pessoas. Níveis de limpeza variam de acordo com a formação cultural, localização geográfica e diferentes setores. Ora, esse conceito varia até mesmo entre duas pessoas!
Há várias definições de limpeza verde. Abaixo está a explicação da Wikipedia:
“Termo que tem sido utilizado para descrever uma tendência contra produtos de limpeza que contêm substâncias químicas reativas e tóxicas, algumas das quais emitem componentes orgânicos voláteis (VOCs), que causam problemas respiratórios e dermatológicos, entre outros. Limpeza verde também pode descrever a maneira como produtos de limpeza residenciais e industriais são fabricados, embalados e distribuídos. Se o processo de fabricação é ecologicamente correto e os produtos são biodegradáveis, então os termos verde ou ecologicamente correto podem ser aplicados.”
Em outras palavras, nossa definição atual e comum de limpeza verde diz respeito às substâncias químicas. Proponho que adotemos uma nova definição de limpeza verde: "criar um local de trabalho limpo, seguro e saudável de forma sustentável". E se alguém precisar de mais esclarecimentos, eu acrescentaria a frase de Bill McDonough: “que não seja prejudicial a nenhuma criança”. Esse conceito envolve muito mais do que apenas a escolha dos produtos de limpeza adequados.
Opções tradicionais da limpeza verde
A limpeza verde tradicional consiste em adotar produtos de limpeza “mais verdes” (menos tóxicos) e práticas em seu escritório para melhorar a qualidade do ar, o que resulta em funcionários mais saudáveis e menos faltas no trabalho. Se você quer melhorar seu programa de limpeza verde, há diversos artigos e discussões sobre diferentes produtos e os significados dos vários rótulos e certificações. Meu conselho é investigar um pouco mais e descobrir você mesmo o que há por trás de todos esses rótulos.
Vamos nos concentrar no que pode ser feito além da compra de produtos de limpeza verdes e no início desse processo de limpeza. Esta é uma grande oportunidade de evolução no tripé da sustentabilidade (TBL), isto é, “Pessoas, Planeta e Lucro”.
Além dos produtos químicos da limpeza verde
Para que possamos ir além das substâncias químicas de limpeza menos tóxicas, é necessária uma abordagem sistemática. No gerenciamento de instalações de empresas, essa abordagem deve ser aplicada tanto para novos projetos/estruturas como para os já existentes. O Quadro 1 a seguir ilustra os componentes e relações em um processo de limpeza verde.
Para novas estruturas, a abordagem de sistema de limpeza verde é relativamente direta. Explicando melhor, é o uso de materiais mais inteligentes que requerem menos limpeza e têm em seu projeto uma proposta que elimina o acúmulo de poeira e sujeira. Deve ser utilizada uma abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) para o processo de limpeza verde. Isso inclui:
1. Seleção dos materiais para o início do processo;
2. Substâncias químicas e processo de limpeza a serem utilizados nos materiais;
3. Métricas e TBL de materiais, limpadores e processos de limpeza;
4. Processo de retirada e recuperação do material, produtos e equipamento de limpeza.
Mesmo não sendo a função do designer educar determinado cliente sobre as várias trocas de utensílios e limpeza, o conhecimento desses clientes fará uma grande diferença na efetividade de um programa de limpeza verde. Assim que o material for instalado, ele deve ser limpo para o bem da vida útil da estrutura, que às vezes pode ser maior do que 50 anos. Alguém tem de assumir o papel de compreender as diferenças de ciclo de vida entre as várias escolhas de materiais: ou o cliente define essas escolhas para o designer ou este educa o cliente acerca do impacto da limpeza nas diferentes escolhas que podem ser feitas.
Por exemplo, em vez de usar carpetes e venezianas horizontais, é mais fácil usar pisos sólidos e venezianas verticais. Utensílios densos (de difícil evasão) precisam de menos limpeza do que utensílios porosos (de fácil evasão). Vimos os exemplos de custo do ciclo de vida de vários carpetes em relação à limpeza, durabilidade e descarte. Diferenças entre pisos macios e duros são óbvias, mas a avaliação do ciclo de vida da limpeza deles não é.
Trabalhe com seus arquitetos e designers. Informe-se sobre os vários produtos e materiais ecologicamente corretos que estão sendo desenvolvidos para diminuir a limpeza.
STM + SLA
Assim como o ciclo de Shewhart – "Plan-Do-Study-Act" – (PDSA, "Planeje-Faça-Estude-Aja"), que é a peça central de todos os processos de melhoria contínua, o sistema de limpeza verde se inicia com o objetivo: qual o resultado desejado? Que nível de serviço será necessário para chegar a esse resultado? O padrão STM (Serviceability, Tools & Methods - Durabilidade, Ferramentas e Métodos) já fornece uma estrutura de escala relativa dos vários SLAs (Service Level Agreement - Acordo de Nível de Serviço) para vários ambientes. A Tabela a seguir descreve algumas dessas diferenças de SLA.
Passos subsequentes no ciclo PDSA incluem um programa-piloto ou teste efetivo de acordo com a meta estabelecida, além de ajustes conforme o necessário. Resumindo, faça o que disser que vai fazer.
Para os sistemas de limpeza verde isso significa que você deverá experimentar uma área de trabalho "teste" com novos materiais, processos de limpeza etc, e verificar se eles alcançam o resultado desejado. Assim, por exemplo, se você quer usar tinta Lotusan para não ter de remover grafite das paredes, faça um teste em determinada área, monitore-o (que tal convidar alguns pixadores?) e veja se isso é eficaz para você.
Assim que souber o resultado final (o SLA desejado, padrões de limpeza, equipamentos etc), o designer poderá determinar e selecionar os materiais mais apropriados, semelhante ao que ocorre em um sistema de controle HVAC ou ao que um engenheiro elétrico determinaria com base nas necessidades do cliente e padrões operacionais. Um passo opcional aqui inclui a possibilidade da limpeza na estrutura inicial/desenho do projeto. O designer deve entender o processo específico de limpeza das instalações para auxiliar na definição de materiais e soluções de limpeza adequadas.
Há vários padrões de limpeza disponíveis para os gerentes de empresas. A limpeza verde e os padrões das substâncias químicas estão evoluindo e sendo desenvolvidos para amparar essa abordagem de sistema de limpeza e incentivar o uso de materiais, estruturas e equipamentos de escritório mais fáceis de limpar.
Orientações resumidas para um sistema de limpeza verde aplicado a novas estruturas:
• Determine um padrão de limpeza utilizando as escalas STM, SLA ou similares;
• Adote a definição “criar um local de trabalho limpo, seguro e saudável de maneira sustentável”;
• Traga o designer de materiais para o processo;
• Avalie e selecione materiais apropriados;
• Conduza um projeto ou teste piloto;
• Verifique se os objetivos estão sendo atingidos e faça os ajustes necessários;
• Concentre-se na melhoria contínua.
Fonte: Agenda Sustentável, via HSM Sustentabilidade. Texto de Fred Klammt (www.agendasustentavel.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário