Lançado por Björn Stigson, presidente mundial do WBCSD – World Business Council for Sustainable Development, em parceria com o CEBDS, no dia 7 de maio, na sede da Editora Abril, em São Paulo, o relatório Vision 2050, quer ser uma plataforma de diálogo com as empresas para pensar qual será o papel do setor na garantia do bem- estar dos 9 bilhões de seres humanos que devem ocupar o planeta daqui a 40 anos.
Em 2050, o mundo não será como hoje. De acordo com o relatório Vision 2050 (feito por 29 empresas-membro do WBCSD – World Business Council for Sustainable Development, em diálogo com centenas de companhias de 20 países do mundo, mais governos, sociedade civil organizada e especialistas em sustentabilidade e lançado por seu presidente, Björn Stigson*. Leia: CEBDS apresenta Vision 2050), daqui a 40 anos o cenário será mais ou menos assim: a população mundial passará dos atuais 6,9 bilhões de pessoas para 9 bilhões, sendo que 98% desse crescimento ocorrerá nos países em desenvolvimento e a parcela urbana será o dobro da atual. A maior parte do crescimento econômico vai ocorrer nos países em desenvolvimento e muitas pessoas estarão na classe média, consumindo mais recursos per capita.
Para garantir que todos tenham acesso a alimentação adequada, água limpa, saneamento básico, moradia, mobilidade, educação e saúde, respeitando os limites do planeta, sem prejuízos para a biodiversidade, o clima e os ecossistemas, o mundo vai precisar de mudanças fundamentais nas estruturas econômicas e de governança, nos negócios e no comportamento humano. Será necessário:
- oferecer educação e empoderamento econômico às pessoas;
- desenvolver soluções ecoeficientes de estilo de vida e comportamento;
- incorporar custos de emissões de carbono, uso de água e de serviços ambientais aos produtos;
- dobrar a produção agrícola sem aumentar a quantidade de água e de terra utilizadas;
- parar o desmatamento e aumentar a área de florestas plantadas;
- reduzir as emissões de carbono, chegando a seu pico até 2020 e depois decrescendo, a partir de sistemas energéticos eficientes e com baixa emissão de carbono;
- prover acesso universal à mobilidade de baixo carbono e
- aprimorar o uso de recursos e materiais.
De acordo com o Vision 2050 – ferramenta que pretende ser uma plataforma de diálogo com as empresas –, o setor empresarial está diante de inúmeras oportunidades, se olhar para a sustentabilidade como uma questão fundamental e estratégica para os negócios. O relatório é enfático nesse ponto: “O mundo sustentável só poderá ser alcançado com mudanças radicais e que comecem imediatamente. O papel dos negócios será, como sempre, inovar, adaptar, colaborar e executar”.
Basicamente, as oportunidades estarão focadas em: construir e transformar onde vivemos e como vivemos; aprimorar e gerir a biocapacidade e os ecossistemas e desenvolver novas estruturas financeiras e de colaboração para que isso aconteça.
Com o crescimento da urbanização, estima-se, por exemplo, que, em 2030, o investimento em infraestrutura urbana ao redor do mundo chegue a 40 trilhões de dólares, para redesenhar as cidades, minimizar a produção de lixo, preservar a biodiversidade e os ecossistemas nesses ambientes e prover a todos suas necessidades básicas de uma maneira eficiente do ponto de vista energético. O planejamento urbano será fundamental para reduzir os deslocamentos e diminuir a emissão de gases de efeito estufa.
Haverá ainda que se repensar a mobilidade urbana, criando alternativas de transporte público e veículos mais eficientes.
No setor energético, a estimativa é de que se invistam mais de 10 trilhões de dólares já em 2015. Só para aprimorar as redes de transmissão e distribuição de energia no mundo até 2030, serão necessários 13 trilhões.
As novas soluções para tratar, conservar e melhorar o acesso à água devem custar cerca de 200 bilhões de dólares por ano, nos próximos 20 anos. E para atingir a Meta do Milênio de garantir água potável e saneamento a todos, seriam necessários 11,3 bilhões de dólares anuais.
Ainda haverá espaço para a reciclagem e a minimização de resíduos. Só o setor de alumínio poderá render 5,6 bilhões de dólares em reciclagem de folhas metálicas.
Também será preciso olhar para a educação, tanto para qualificar a mão-de-obra necessária para todas essas transformações, quanto para que as pessoas comecem a mudar seus padrões de consumo. Além disso, há que se melhorar os sistemas de saúde. A expectativa é que os serviços de seguro-saúde e as clínicas particulares cresçam consideravelmente. Em 2020, um quinto da população mundial terá 65 anos ou mais e, certamente, vai buscar independência e mais qualidade de vida por mais tempo.
Esse último dado também vai exigir o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas de comunicação que mantenham a população idosa conectada a família e amigos. O interesse por novos cursos, inclusive à distância, também deve aumentar consideravelmente após a aposentadoria.
Com cerca de 3,6 bilhões de pessoas na classe média até 2030, é fundamental que o consumo aconteça de forma consciente, ou será impossível atingir um nível satisfatório de sustentabilidade até 2050.
A produtividade na agricultura terá que aumentar cerca de 2% ao ano para alimentar, vestir e prover a energia necessária aos 9 bilhões de habitantes de 2050. O montante investido nessa melhoria deve chegar a 83 bilhões de dólares por ano e vai incluir o melhoramento de sementes e novas técnicas agrícolas e de manejo florestal.
Aliás, o mercado de proteção dos ecossistemas, como a certificação florestal, deve crescer de 15 bilhões de dólares este ano para 50 bilhões em 2050. A certificação agrícola deve alcançar os 97 bilhões já em 2012.
Para que tudo isso aconteça, também será necessário repensar os modelos tradicionais de financiamento e considerar novas formas de microfinanciamento, privilegiando as mulheres, que, comumente, dão maior retorno.
O relatório afirma que essa jornada pelos próximos 40 anos vai demandar colaboração, convicção e coragem por parte dos empresários e a implementação de mudanças radicais. Eles ainda convidam os governos e a sociedade civil para fazerem parte dessa transformação de paradigma mundial.
*Björn Stigson concedeu uma entrevista exclusiva ao Planeta Sustentável e à National Geographic Brasil, que será publicada na edição de junho da revista e também no site.
Fonte: Thays Prado - Planeta Sustentável
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