O que fazer com os resíduos sólidos? A Fiat encontrou uma solução criativa e rentável para tratar os resíduos resultantes do seu processo produtivo.
Como afirma uma propaganda atualmente em cartaz, o que move o mundo são as perguntas. E, ao perguntar à equipe de funcionários, ainda em 1998, o que fazer com seus resíduos sólidos, a Fiat brasileira encontrou uma solução que, ao longo da década seguinte, provou ser um exemplo de prática de gestão sustentável que vem sendo adotada em outras unidades da própria empresa. E deveria ser copiada por outras indústrias.
Como toda idéia genial, ela é bem simples. Trata-se da Ilha Ecológica. Na verdade, um lugar definido na planta da empresa em Betim, Minas Gerais, para centralizar o encaminhamento de todos os resíduos gerados pelo processo produtivo. E não é pouca coisa. Por mês, são perto de 20 mil toneladas de madeira, papel e papelão, chapas de aço, cavaco de ferro fundido, plástico, isopor, lâmpadas fluorescentes e outros materiais que sobram da montagem dos carros. Na Ilha Ecológica, trinta funcionários separam esses resíduos recicláveis por categoria.
Alguns itens são vendidos diretamente pela fábrica para a indústria recicladora. Só a venda do isopor rende para a Fiat cerca de R$ 200 mil todo mês. Não é muito, comparado ao total de vendas dos carros. Mas é um dado importante para mostrar que uma solução socioambiental também traz dinheiro.
Antes de introduzir esse conceito na área de produção, a fábrica de Betim não sabia mais onde armazenar tantos resíduos. Assim, da necessidade nasceu a pergunta e a resposta. Hoje, a Ilha Ecológica é tão importante para o planejamento estratégico que está recebendo melhorias, dentro do plano de expansão da planta de Betim, com ganhos no fluxo de materiais para reciclagem e maior capacidade de armazenagem.
Reciclagem de isopor
A iniciativa da Ilha Ecológica é inovadora também por encontrar uma solução para o isopor (poliestireno expandido). O que fazer com esse material imprescindível para embalar os motores que vêm da Argentina? Se fosse armazenado, o isopor somaria, todo mês, 2,5 milhões de m², quase a área total da fábrica de Betim. Acontece que esse material não é de interesse para reciclagem, a menos que seja transformado de novo em poliestireno. Só assim ele encontra um nicho de mercado, sendo utilizado na fabricação de saltos de sapato, réguas, canetas, canaletas para fiação, caixas de CD, chaveiros, juntas de dilatação para pisos etc.
A solução encontrada pela empresa foi a criação, em 1996, de uma máquina recicladora de isopor, que condensa o poliestireno, reduzindo-o a um volume significativamente menor (50 vezes), preservando sua composição química e praticamente sem perdas – apenas 0,3%.
O primeiro passo da reciclagem é a quebra do isopor em pedaços menores. Em seguida, o material é aglutinado, por meio de exposição ao calor e ao atrito. Já bastante adensado, o material é colocado na extrusora, onde é submetido a novo aquecimento, em temperaturas controladas, até seu "derretimento" (e não queima). Nesse estado, o isopor é homogeneizado e transformado em filetes, na forma de espaguete. Depois de resfriados e secos, os filetes passam por uma máquina de picotes, transformando o poliestireno em grânulos.
O processo e o equipamento de reciclagem do isopor foram desenvolvidos na fábrica da Fiat em Betim, pela Valki Plásticos, empresa sediada em Louveira (SP). Atualmente, a reciclagem é feita na própria Ilha Ecológica, pela empresa Bemplast, de Betim.
A Ilha Ecológica é uma parte importante de um sistema maior, o Sistema de Gestão Ambiental da Fiat (SGA), que busca não apenas preservar o meio ambiente, mas diminuir as emissões do processo produtivo. Por meio desse sistema, a empresa implantou um complexo de nove unidades de tratamento de efluentes líquidos, instalou sistemas antipoluentes e equipamentos mais eficientes (com menor consumo de energia) e realizou um grande trabalho de sensibilização e conscientização dos empregados e fornecedores, com o objetivo de produzir automóveis com a mais avançada tecnologia, tanto no benefício direto ao consumidor quanto na melhoria das condições ambientais do processo industrial. Indicadores mostram que a empresa está no caminho certo, com se observa a seguir.
Principais benefícios (antes e depois do SGA)
Com a instalação de estações de tratamento, há cinco anos, a Fiat também logrou reutilizar 92% dos efluentes do processo produtivo, economizando, no período, 7,5 bilhões de litros de água, volume suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes.
A montadora é também pioneira, no Brasil, em eliminar as emissões de solventes dos fornos de pintura, por meio de um processo de queima dos gases com solventes orgânicos que os transforma em gases inertes para o meio ambiente.
Por Cristina Spera e Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)
Artigo muito abrangente, estou no http://processo-industrial.blogspot.com
ResponderExcluirCom muitos artigos relacionadas com processo industrial.
Abraço; Almir Cezar