Para combater o desvio ilegal de energia, que gera prejuízos anuais de R$ 10 bilhões, distribuidoras querem lançar sistema pré-pago. Só recebe a luz quem paga antes
Um dos mais nefastos exemplos do famoso jeitinho brasileiro pode estar com os dias contados. Os desvios ilegais de energia, popularmente conhecidos como "gatos", estão na mira das principais operadoras do sistema energético brasileiro. Sucesso na África do Sul, onde conta com mais de quatro milhões de usuários, um inovador projeto de venda de energia elétrica pré-paga deve chegar ao Brasil ainda em 2010. Sua missão é caçar os gatos que, segundo a Aneel, órgão regulador do setor, causam prejuízos de R$ 10 bilhões por ano às distribuidoras. Em tese, esse valor poderia ser convertido em forma de receita para as próprias companhias que atuam no setor. Desenvolvido pela empresa de TI Elucid Solutions, o modelo segue os mesmos padrões do sistema sul-africano. A ideia é trazer os consumidores de baixa renda - principais adeptos dos "puxadinhos" de energia - para a formalidade e impedir que eles caiam na tentação de roubar luz. Funciona assim: como forma de atrair o consumidor para o sistema formal, ele tem o direito de utilizar, gratuitamente, até 50 megawatts/hora por mês, quantidade suficiente para atender uma família de quatro pessoas da classe D. Quando a cota é atingida, o sistema interrompe o fornecimento até que o cliente carregue um cartão com um determinado valor que assegure o reabastecimento de energia. "O modelo é muito parecido com o da telefonia celular pré-paga", diz Michael Wimet, presidente da Elucid Solutions.
Pode parecer contraditório, mas, mesmo com o fornecimento gratuito de parte da energia utilizada, as empresas têm a ganhar com o novo modelo. A experiência sul-africana prova isso. "O consumidor informal não tem preocupação com a conta de energia, por isso tende a desperdiçar", diz Wimet, lembrando que já viu casos de moradores de favelas, usuários de gatos, que utilizavam geladeiras sem portas como uma espécie de ar-condicionado. Num caso como esse, o consumo pode chegar a 500 megawatts por hora, ou dez vezes acima do limite mensal que seria fornecido gratuitamente pelas companhias. "Por mim, o modelo pré-pago entra em operação amanhã", diz Sidney Simonaggio, vice-presidente de operações da Rede Energia, uma das maiores distribuidoras de energia do Brasil, que já vem testando o sistema desde o ano passado. "O fato de tirarmos os consumidores da informalidade é bom para todos. Até o consumidor comum sai ganhando, já que o prejuízo com os gatos é repassado para aqueles que pagam suas contas normalmente." Já existe inclusive um projeto de lei, do senador Gim Argello (PTBDF), que regula o modelo de energia pré-paga no Brasil. Em fase final de avaliação na comissão de infraestrutura, o projeto deve ser votado nos próximos meses. "A ideia é que a lei seja aprovada ainda em 2010", diz Argello.
Fonte: IstoÉ Dinheiro - Nicholas Vital
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