As famílias consomem um terço da energia final usada na União Europeia e produzem cerca de dois terços do lixo das cidades. Portanto, a probabilidade de o consumidor fazer diferença de fato no que se refere à mudança climática não pode ser de forma alguma desprezada
Bruxelas – Existe um personagem esquecido nas campanhas mundiais em prol da limitação das emissões de CO2: o consumidor. As famílias consomem um terço da energia final usada na União Europeia e produzem cerca de dois terços do lixo das cidades. Além disso, alimentos e bebidas, moradia e transporte particular respondem por cerca de 80% das pressões ambientais. Portanto, a probabilidade de o consumidor fazer diferença de fato no que se refere à mudança climática não pode ser de forma alguma desprezada.
Diversos fatores podem levar o consumidor a se relacionar de forma mais solidária com o meio ambiente. Para isso, porém, precisamos de informações claras e simples que orientem as decisões de consumo. Contudo, apesar da forte demanda, estamos longe de proporcionar informações acessíveis sobre o impacto ambiental dos produtos. Na verdade, dois terços dos consumidores acham difícil entender quais produtos são melhores para o meio ambiente, e 29% jamais procuram se informar sobre o impacto ambiental daquilo que compram.
As empresas têm diante de si um problema de confiança, uma vez que 58% dos europeus acreditam que muitas empresas fingem respeitar a natureza só para cobrar preços maiores. A indústria tem ainda um longo caminho a percorrer para que o consumidor se sinta confiante na hora de optar por um produto que não agrida o meio ambiente. É por isso que, na minha opinião, as empresas precisam encontrar meios de propiciar um volume maior de informações ao consumidor no tocante ao grau do impacto ambiental do produto que ele pretende adquirir. Além disso, é preciso que as empresas cultivem um comportamento mais sustentável entre seus clientes.
É evidente que elas estão desenvolvendo rótulos para seus produtos que ajudem o consumidor a fazer escolhas responsáveis — os rótulos advertem o comprador, por exemplo, para o fato de que produto em questão é feito de materiais reciclados, renováveis, com maior ou menor uso de carbono. Apesar disso, somente 20% dos europeus acredita que as empresas estejam se esforçando como deveriam para promover opções que não agridam o meio ambiente.
As companhias de energia devem ajudar as empresas e o consumidor a compreenderem o volume real de emissão de carbono de todos os produtos e serviços. No momento em que as pessoas recebem informações simples e claras, elas fazem a escolha certa.
Em tempos de crise, o consumidor costuma dar prioridade a produtos de maior durabilidade e que não saiam de moda. Produtos duráveis podem, às vezes, custar mais caro, mas não precisam ser substituídos com muita frequência. Dessa forma, as empresas que desenvolvem produtos duráveis ou recicláveis permitem ao consumidor pensar de maneira diferente a respeito de suas compras. Cultivar esse tipo de pensamento — introduzindo, por exemplo, produtos de design mais compatível com o meio ambiente — pode ajudar o consumidor a se comportar de forma mais responsável, conscientizando-o para a necessidade de pôr fim à nossa cultura do desperdício.
As pesquisas têm demonstrado que não basta informar o consumidor sobre as características ambientais de um produto, sua utilização ou descarte. A existência pura e simples de informações não muda de forma significativa o comportamento das pessoas. O fato é que a abundância de informações pode até ser contraproducente, levando à confusão e à frustração. Portanto, é imprescindível que a informação seja clara, equilibrada e inteligível.
Temos também de orientar o consumidor e, em última análise, estabelecer um modelo de estilo de vida prático que ele possa imitar. Isso não se consegue só com regulamentações, e sim com iniciativas inteligentes, oportunas e objetivas por parte da comunidade de negócios no intuito de criar um grupo sustentável de consumidores leais.
Tudo isso vale também, e em maior grau, para a educação do consumidor no que se refere à economia de energia e às implicações disso para seu bem-estar econômico. As companhias de energia devem ajudar as empresas e o consumidor a compreenderem o volume real de emissão de carbono de todos os produtos e serviços. No momento em que as pessoas recebem informações simples e claras, elas fazem a escolha certa.
As pesquisas mostram que é preciso contar com 15% de consumidores comprometidos para deflagrar uma mudança profunda. No Reino Unido, por exemplo, 54% dos consumidores compram mais produtos adequados ao meio ambiente do que há dois anos. É um começo promissor.
A Comissão Europeia desempenha um papel ativo na educação do consumidor e no desenvolvimento de atitudes que o levam a se comportar de maneira mais sustentável. Introduzimos novos elementos de sustentabilidade nas ferramentas online de informações como a DOLCETA, ferramenta de educação online do consumidor, e o EUROPA DIARY, voltada para o público consumidor jovem. Como parte do Plano de Ação Sustentável de consumo e produção, adotado pela Comissão Europeia em julho passado, apoiamos a criação de um Fórum Ambiental do Varejo entre produtores e varejistas da Europa.
Estamos trabalhando também em associação muito próxima com a Confederação das Indústrias de Alimentos e Bebidas da Europa em sua Mesa Redonda de Produção e Consumo Sustentável de Alimentos. Creio que tais iniciativas darão grande ímpeto aos esforços dirigidos ao consumidor na empresa e na indústria.
No entanto, o que realmente queremos é a mudança comportamental na forma como os consumidores e os mercados reagem. A política tradicional aplicada ao consumidor, que se preocupa em corrigir as falhas do mercado, deve ser complementada por uma política moderna que influencie, no futuro, o lado da demanda, de modo que o mercado se comporte de forma mais sustentável.
Muita gente quer fazer alguma coisa pelo meio ambiente, mas nem sempre tem a oportunidade de consumir de forma mais ecologicamente responsável, já que as escolhas sustentáveis de baixo carbono são mais caras e difíceis de achar, quando deveriam ser mais amplamente acessíveis a todos.
Os produtos não-sustentáveis deveriam ser eliminados aos poucos. De acordo com as pesquisas, muitos consumidores acreditam que os produtos inimigos do meio ambiente nem sequer deveriam ser comercializados. O consumidor está nos dizendo que está pronto para uma mudança radical. É hora de políticos e empresas reagirem de maneira igualmente forte.
Por Meglena Kuneva, comissária europeia para Assuntos do Consumidor
Fonte: Época Negócios
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