9 de dez. de 2009

Mostra de Tecnologias Sustentáveis foge do lugar-comum

A onda da sustentabilidade gerou muitos conceitos e teorias, mas os exemplos de aplicação prática são sempre os mesmos. A Mostra conseguiu fugir desse lugar-comum”, afirma o consultor Luiz Bouabci.

A Mostra Tecnologia de Sustentáveis 2010 está com inscrições abertas até 31 de janeiro de 2010. O evento é promovido pelo Instituto Ethos paralelamente à Conferência Internacional Ethos 2010, que será realizada entre os dias 11 e 14 de maio de 2010, no Hotel Transamérica, em São Paulo.

Para falar sobre inovações tecnológicas para a sustentabilidade, Margarida Curti, coordenadora da Mostra, conversou com o consultor Luiz Bouabci, membro do Comitê Curador desde a primeira edição. Ele é mestre em sustentabilidade pela Fundação Politécnica da Catalunha e sócio da Mob Consult, empresa especializada no mapeamento de redes humanas e sistemas complexos para geração de inovação e tomadas de decisão estratégicas.

Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Margarida Curti: Como o atual contexto econômico influencia no movimento de inovações tecnológicas para a sustentabilidade?
Luiz Bouabci: O grau de investimento em inovação para a sustentabilidade vai mudar de acordo com a realidade das organizações. Para as que buscam sobreviver no contexto da crise, a probabilidade é de que a sustentabilidade dos processos fique em segundo plano, com alguma chance de que o desenvolvimento de produtos verdes tenha continuidade, caso venham a representar uma oportunidade de mercado. Para as que não foram tão afetadas pela mudança de contexto, o ponto crítico é a limitação da capacidade de investimento de outras empresas e da capacidade de consumo da sociedade. O desafio nesse caso é readequar estratégias no sentido de garantir que as inovações geradas sejam acessíveis economicamente.

MC: Você acredita que iniciativas como as expostas nas últimas edições da Mostra podem dar início a um novo mercado? Tecnologias sustentáveis seriam capazes de substituir tecnologias convencionais que já não atendem às demandas da humanidade e do planeta?
LB: Na medida em que as questões ambientais ganham espaço na mídia global, o nível de consciência da sociedade de consumo aumenta. Nesse movimento, a adoção de tecnologias que se ajustem à lógica do planeta passa cada vez menos a ser uma questão de opção, e sim de sobrevivência para as empresas. A questão mais uma vez é garantir que a sustentabilidade não se torne artigo de luxo, economicamente viável somente para as classes A e B. Outro ponto relevante para a substituição do modelo é a completa reinvenção dos processos produtivos. De nada adianta criarmos uma lógica completamente inovadora para o design de produtos que continue baseada no paradigma atual de produção e comercialização.

MC: Como se dá a atuação das empresas, das universidades e do governo brasileiro no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias para este fim?
LB: Nosso modelo de educação privilegia a visão compartimentada, setorializada da sociedade. Essa visão reflete diretamente na capacidade de avanço da sustentabilidade, pois, para que os processos produtivos das empresas dêem um salto quântico nesse sentido, é necessário contar com o fomento do governo às pesquisas acadêmicas e com um ambiente tributário favorável. Do contrário, a carga de responsabilidade fica sempre desbalanceada, com as empresas tendo de arcar com investimentos massivos em P&D, num contexto de competição predatória que favorece sempre a lógica do menor custo econômico, aquele que minimiza as externalidades socioambientais dos processos produtivos.

MC: Qual a importância da Mostra de Tecnologias Sustentáveis nesse contexto?
LB: A onda da sustentabilidade gerou um volume grande de conceitos e teorias, mas os exemplos de aplicação prática evidenciados pela mídia são sempre os mesmos. A Mostra conseguiu, nos últimos dois anos, fugir desse lugar-comum, ao trazer à tona iniciativas, na sua maioria pouco conhecidas, com um grande potencial de inovação e inspiração. Outro ponto é a contribuição para a transformação do modelo produtivo, gerada de forma indireta pela disseminação dos conceitos traduzidos pelos critérios de avaliação.

Fonte: Instituto Ethos
Por Margarida Curti / Edição de Benjamin S. Gonçalves

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