A palavra sustentabilidade, por seu uso constante e descuidado, está
ficando muito desgastada. Agora todos são sustentáveis: empresas,
organizações sociais de todos os tipos, faculdades, hospitais, escolas e
até times de futebol. Vamos jogar um pouco de luz nesse debate tentando
esclarecer o que não é sustentável.
Fazer negócios como sempre fizemos (business as usual) com certeza
não é sustentável. Não significa, de modo algum, afirmar que tudo que
fizemos até agora está errado; significa, sim, afirmar, que nem tudo que
foi feito no passado e que deu certo, continua válido hoje e para o
futuro.
Para que uma atividade seja considerada sustentável ela deve atender
três requisitos: ser economicamente viável, ambientalmente equilibrada e
socialmente justa. Vamos analisar o pilar econômico, que é aquele que
todos, supostamente, compreendem.
Se fizermos uma lista das dez principais incorporadoras do mercado
imobiliário da década atual e compararmos com a mesma lista de 20 anos
atrás, poucos serão os nomes que estão nas duas listas. Se estendermos o
nosso período de análise para 40 anos, que é um período muito curto
quando se fala em sustentabilidade econômica, é possível que essa lista
se limite a uma ou duas empresas.
Sendo mais claro: a perenidade é uma consequência lógica do pilar
econômico da sustentabilidade, empresas que operam apenas olhando
resultados de curto prazo, não são sustentáveis sob o ponto de vista
econômico, porque, provavelmente, terão vida curta. E aqui vale uma
reflexão: se a expectativa de vida de um brasileiro ao nascer é de 73
anos, em média, não vejo razão para que uma empresa tenha uma
expectativa de vida menor, ao contrário, haja vista que as empresas
existem, ou melhor, deveriam existir para atender à sociedade, deveriam
viver, no mínimo, para atender várias gerações. Sendo um pouco mais
claro, acredito que uma empresa que não tem planos para se perenizar
(operar por centenas de anos), não pode ser chamada de sustentável. A
sustentabilidade leva à perenidade. A visão de curto prazo impede a
sustentabilidade.
A preocupação com redução de custos sempre esteve na pauta de
qualquer gerente minimamente competente, portanto, afirmar que uma
empresa é sustentável porque tem um programa de ecoeficiência é, no
mínimo, inadequado. O termo ecoeficiência se popularizou recentemente,
mas economizar nas contas de água e energia elétrica, ou simplesmente
não desperdiçar insumos e produtos, é apenas boa gestão.
Outra falácia é a que diz respeito ao cumprimento de leis e
normas. Esse cumprimento é obrigação de todas as empresas que operam na
legalidade. É verdade que cumprir esse mínimo não é uma prática
universal, quando se examina todo o conjunto das empresas que operam no
setor da construção civil. O grau de informalidade no nosso setor é
muito significativo. Não temos dados precisos para informar quantos
metros quadrados de residências, escritórios e espaços comerciais estão
sendo construídos, ou reformados, este ano no nosso País, mas posso
afirmar, com pequena chance de errar, que mais da metade deve estar
sendo construída com algum grau de informalidade. Não há nenhuma
sustentabilidade nesse fato.
Cumprir a legislação e as normas técnicas também sempre foi
obrigatório, portanto, fazê-lo não caracteriza uma ação sustentável. A
legislação que inova, impondo novos critérios que gerarão economias
importantes de insumos e materiais pode ser adjetivada como sustentável,
mas a legislação tradicional, que já esta estabelecida há muito tempo,
não pode ser adjetivada como tal. O nosso setor é conservador, e não há
nada de intrinsicamente errado nisso. O problema é que só conseguiremos
avanços importantes na rota da sustentabilidade por meio da inovação.
Concluindo este pequeno artigo, quero destacar o seguinte conceito:
melhorias contínuas em produtos e processos são ótimas e muito bem
vindas; economias de toda sorte são importantes, o bolso e o planeta
agradecem. Mas só rupturas importantes com a forma como fazemos negócios
hoje é que permitirão a construção de uma sociedade que seja realmente
sustentável para todos, ou seja, economicamente viável, ambientalmente
equilibrada e socialmente justa.
Fonte: Terra Sustentabilidade
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