27 de jan. de 2011

"Precisamos também usar os dois tipos mais valiosos de capital –pessoas e natureza– e reinvestir neles"

Siga o mestre do capitalismo

Amory Lovins, do Rocky Mountain Institute, analisa como as empresas podem começar a aproveitar as oportunidades “verdes”

Em entrevista, o renomado cientista Amory Lovins, do Rocky Mountain Institute, também empresário e estrategista de negócios, analisa como as empresas podem começar a aproveitar as oportunidades “verdes” que estão perdendo.

Nas principais conferências sobre sustentabilidade e negócios, Amory Lovins é o palestrante que os outros mais mencionam ao darem suas palestras. Ele é o parâmetro ou talismã que muitos figurativamente incensam para reafirmar sua boa-fé e abrangência intelectual sobre sustentabilidade.

Não fica claro se Lovins percebe isso – ou se se importa. Ele se senta na primeira fileira, de óculos e de modo calmo, e na maior parte do tempo parece curioso –sobre tudo– e não ter tempo para firulas. Há trabalho por fazer. Ele está aí para isso.

E assim tem sido para Lovins há décadas, principalmente desde que cofundou, em 1982, o famoso Rocky Mountain Institute (RMI), um think tank empresarial, sem fins lucrativos, do tipo “pensar e fazer”,
que, segundo Lovins, continua a ser mal interpretado. “Nosso DNA é de praticantes, não de teóricos.

Nós criamos soluções. Ocasionalmente leio na mídia, com certo espanto ou surpresa, que somos um think tank ambiental; na verdade não somos nenhum dos dois”, diz ele. “Nosso trabalho se concentra em eficiência avançada de energia e recursos.”

Notavelmente, o RMI alega que metade de suas receitas advém de ajudar a implantar o que eles aprendem na pesquisa. (A outra metade vem de fontes típicas sem fins lucrativos.)

Lovins trabalha na interface entre sustentabilidade e negócios há mais tempo do que a maioria de nós sabe que ela existe, e nesse percurso escreveu dezenas de livros, entre os quais o desbravador Capitalismo Natural – Criando a Próxima Revolução Industrial (ed. Cultrix), em coautoria com a esposa, Hunter, e com Paul Hawken; recebeu por ele o Genius Award, célebre prêmio da MacArthur Foundation conferido apenas a trabalhos excepcionais.

Quando os líderes empresariais perguntam o que o sr. quer dizer por “sustentabilidade”, o que o sr. lhes diz?
A pergunta não surge, porque eu não uso essa palavra.

Então o que o sr. usa no lugar dela?
Eu digo o que entendo por isso. “Sustentabilidade” significa tantas coisas para tantas pessoas que acaba sendo inútil. Há várias definições que você pode citar (a de Brundtland, a do Forum for the Future etc.), mas nenhuma delas tem aceitação geral.
Entretanto, por trás de sua pergunta está o cerne de algo muito importante: a ideia de que fazer negócios como se a natureza e as pessoas fossem apropriadamente valorizadas cria, na verdade, uma surpreendente vantagem competitiva. Em outras palavras, se o capitalismo é um uso produtivo de capital e seu reinvestimento, não podemos lidar somente com capital financeiro e físico –dinheiro e bens. Precisamos também usar os dois tipos mais valiosos de capital –pessoas e natureza– e reinvestir neles. Se você jogar com o baralho inteiro, usando os quatro tipos de capital, então ganha mais dinheiro, faz mais o bem e se diverte mais.

Mas pesquisas mostram que gestores geralmente não acreditam nisso. Que conceitos errôneos sobre sustentabilidade –seja qual for a palavra que se use– o sr. Percebe que é preciso corrigir?
Essa é uma pergunta mais útil. Há uma visão disseminada entre os menos informados de que sustentabilidade significa fazer reciclagem de lixo domiciliar e talvez tentar melhorar a eficiência do consumo de energia, e que isso geralmente custa mais e é inconveniente, embora tal comportamento faça você se sentir normalmente economizamos cerca de 30% a 60% da energia, com retorno em dois a três anos, então é um dos investimentos de mais alto retorno e mais baixo risco de toda a economia. E, quando fazemos novas instalações, economizamos mais, normalmente de 40% a 90%, mas o custo de capital quase sempre diminui.
Assim, em instalações novas e em algumas modernizações, não só o investimento em eficiência gera um belo retorno, mas, com frequência, o investimento marginal inicial é menor do que zero. Não é impossível que “verde” custe mais, mas é muito incomum. Certamente não é o caso de novos prédios ou fábricas bem projetados, nem da maioria dos carros ecológicos, com poucas exceções. E, em geral, se você for tornar ecológico um processo industrial, isso significa que está transformando desperdício em lucro. Está reduzindo a fabricação de algo que ninguém quer, como lixo ou emissões poluentes; você simplesmente tira isso do projeto –o que rapidamente leva a uma enorme inovação e vantagem competitiva.

Por que será que seu ponto de vista não se torna senso comum?
Acho que muitas pessoas caíram no conto da teoria econômica básica mal ensinada e pouco lembrada, supondo que os mercados de fato são perfeitamente eficientes –que, se as ideias que os defensores da sustentabilidade advogavam fossem econômicas, elas já teriam sido adotadas–, como se ninguém pudesse inovar e todas as oportunidades importantes já estivessem esgotadas.

Fonte: © MIT Sloan Management Review - via Revista HSM Management – Edição 80 - http://tinyurl.com/4acdykk

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