19 de mai. de 2010

Conferência destaca empregos verdes e vulnerabilidade das megacidades

Na 9ª. Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas, realizada em São Paulo, especialistas comentaram a tendência de novos postos de trabalho para uma sociedade de baixo carbono, já reconhecida pela OIT. O climatologista Carlos Nobre, do INPE, anunciou o lançamento do Mapeamento das Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas, alertando para a gravidade do tema.

As mudanças climáticas estão movimentando o cenário do mercado de trabalho no Brasil e no mundo. Diante dessa realidade, a Coordenação de Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes, da OIT - Organização Internacional do Trabalho*, realiza, há um ano no país, um levantamento para mapear o potencial de empregabilidade neste segmento. Segundo Paulo Sérgio Muçouçah, respnsável pela área, atualmente existem 2.653.059 empregados em atividades que contribuem para a mudança dos padrões de produção e consumo.

Essa foi um dos principais pontos levantados durante a 9ª Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, promovida no dia 12 de maio pela Câmara Municipal e a Prefeitura de São Paulo, que reuniu reuniu cerca de 2.252 pessoas.

Os dados apresentados por Muçouçah são de 2006 a 2008. Os postos de trabalho estão distribuídos nos setores de produção e manejo florestal, de geração e distribuição de energias renováveis, de saneamento e de gestão de resíduos e de riscos ambientais. Há distribuição de empregos também nas áreas de manutenção, reparação e recuperação de produtos e materiais; de transportes coletivos e alternativos às rodovias e aeroviários, além das telecomunicações e telemarketing.

“Há grande potencial de geração de empregos verdes em setores que hoje contribuem para o aumento do carbono, ao haver a mudança do processo produtivo”, afirmou o coordenador. Neste grupo, estão representados 5.810.269 de trabalhadores que atuam nas áreas de extração mineral e indústrias de base; da construção, comercialização e manutenção de edifícios; da agricultura e pecuária; da aqüicultura, caça e pesca e de turismo e hotelaria.

Em sua análise, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, já aprovada pela Câmara, e que tramita no Senado, e a Política Nacional sobre Mudança do Clima, sancionada em dezembro passado, significam um grande impulso às atividades sustentáveis. “Recentemente o governo lançou o Programa Nacional de Trabalho Decente, que prevê investimentos públicos e privados em melhoria da qualidade e conservação ambiental. Isso tem de se traduzir em medidas concretas, mas já é uma iniciativa positiva”, considera Muçoucah.

A OIT deu ênfase aos estudos sobre empregos verdes a partir de 2007. “Nessa época, 50% das pessoas ocupadas ganhavam menos de U$2 por dia e cerca de 40%, de valor inferior a U$1, representando uma situação de extrema pobreza. A esse quadro se somou a preocupação sobre as mudanças climáticas, com a divulgação do 4º Relatório do IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas”, explica o coordenador do Programa de Trabalho Decente e Empregos Verdes, da OIT - Organização Internacional do Trabalho, no Brasil.

O presidente do CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Marcelo Takaoka, destacou ainda que a área de infraestrutura urbana tem grande potencial para absorção de empregos verdes. Nessa lista, se encontram os setores de energia, saneamento básico, transporte, segurança, meio ambiente e comunicação.

O desafio na economia de baixo carbono, em sua opinião, está em promover o equilíbrio entre os stakeholders: governo, investidores, financiadores, consumidores e originadores da cadeia construtiva.

“A maioria não sabe fazer a conta de redução de GEEs - Gases de Efeito Estufa. É preciso traduzir esses dados”, disse.

USO RACIONAL SEM ROMANTISMO

Em palestra magna, o embaixador e diretor da Faculdade de Economia da FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado, Rubens Ricupero, destacou que a economia verde não pode ser considerada uma ideia romântica ou fantasiosa, de ‘hippies’. “Dependerá muito de novas tecnologias. Nem todas de grande sofisticação, pois muitas estão ao alcance de nós. Virão da economia do uso de recursos”, afirmou.

O vazio do desaparecimento das ideologias do passado, segundo ele, pode ser preenchido pela sociedade verde e dar sentido à vida dos jovens, com a oportunidade de trabalho. Ele lembrou que quando houve o racionamento de energia, no Brasil, a população descobriu que podia viver bem, com o uso racional.

“A economia verde não terá de vir dos EUA e da China, mas de cada um de nós”, salientou. Nesse contexto, não pode ser desprezado o descarte do lixo. Há necessidade de avanço na reciclagem e na produção de biogás, em sua avaliação. “Só a reciclagem de alumínio gera 170 mil empregos no Brasil, segundo relatório da ONU – Organização das Nações Unidas. Muitos são catadores de lixo, mas que trabalham sem proteção”, alerta.

VULNERABILIDADE DAS MEGACIDADES

Mais um tema que chamou a atenção, durante a conferência, foi no campo das pesquisas científicas. O climatologista do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e conselheiro do Planeta Sustentável, Carlos Nobre, anunciou que, neste mês, será lançado o Mapeamento das Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas. O foco da pesquisa é em São Paulo e no Rio de Janeiro. “O trabalho envolve várias instituições e aborda efeitos à saúde e cenários em 2030 e até o final do século”, adiantou.

Segundo Carlos Magno, diretor e fundador do Climatempo, hoje é preciso priorizar a adaptação porque o tempo está cada vez mais reduzido entre as intempéries climáticas. Ele exemplificou que chuvas com alto índice pluviométrico em um único dia, que ocorriam em intervalo estimado de 150 anos, nas últimas décadas, não excedem a 15 anos. “Há necessidade de mapeamento das áreas de risco e ações mais incisivas para evitar mortes”, destacou.

Ao final do evento, a coordenação da Conferência, representada pelo vereador Gilberto Natalini, anunciou uma Carta de Intenções, que deverá ser disponibilizada no site* do encontro (veja endereço no final do texto). O documento propõe o acompanhamento dos trabalhos do Comitê Municipal da Mudança do Clima e Ecoeconomia de São Paulo e divulgar suas ações da conferência.

O texto ainda indica o estímulo à manutenção das características naturais de permeabilidade do solo em, no mínimo 30% da área total dos terrenos. A medida visa assegurar a infiltração das águas pluviais; a mitigação da formação de ilhas de calor e da poluição atmosférica, no município.

De acordo com Carlos Nobre, as grandes cidades do mundo não estão preparadas para as mudanças climáticas. “A temperatura em São Paulo, nos últimos 50 anos, já subiu 3,5 graus. A cidade é muito vulnerável”, alertou.

Fonte: Sucena Shkrada Resk – Edição: Mônica Nunes - Planeta Sustentável

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