5 de fev. de 2010

Construções mais verdes

Escolha de materiais ecologicamente corretos, gestão de resíduos durante a obra, projetos que potencializam o aproveitamento da iluminação/ventilação naturais, uso de energia solar e até eólica, reúso de água, medidores individuais de água e gás. Estas são apenas algumas das práticas que aos poucos vão se incorporando às construções de primeira linha no Brasil.

Diante disso, resta o questionamento de qual o percentual de incremento nos custos das construções sustentáveis e se elas chegarão logo aos padrões mais modestos de construção, incluindo, inclusive, itens de conforto, a exemplo da habitação popular brasileira, famosa por medidas econômicas no processo construtivo que terminam por gerar habitações de qualidade duvidosa, principalmente no quesito conforto.

Isso tudo deve mudar, de acordo com o Processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) Habitacional, segundo seu coordenador executivo, professor Manuel Carlos Reis Martins, porta-voz do primeiro referencial técnico brasileiro de certificação da construção sustentável, que acaba de ser lançado.

Desde 2007, a Fundação Vanzolini é detentora exclusiva do Processo Aqua para edifícios comerciais e de serviços, ocasião em que firmou acordo com o CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment) instituto francês, referência mundial em pesquisas na construção civil, e sua subsidiária Certivéa, para adaptação dos referenciais técnicos da certificação francesa HQE (Haute Qualité Environnementale) ao Processo Aqua no Brasil. Sendo que hoje já conta no país com a adesão de 14 empreendimentos, sete dos quais já certificados.

Foi por meio de convênio, firmado em 2008, com a Cerqual, integrante do Grupo Qualitel (organismo francês de certificação de empreendimentos habitacionais sustentáveis na França), que a Fundação desenvolveu o Referencial Técnico de Certificação (conjunto de normas) do Processo Aqua para Edifícios Habitacionais no Brasil, disponibilizando-o agora ao mercado.

O Processo Aqua requer o atendimento a 14 categorias da Qualidade Ambiental do Edifício (QAE), baseadas em critérios de desempenho, e exige também um Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) - que controla o projeto em todas as fases, incluindo avaliação por auditoria presencial independente. O certificado, de nível internacional, é emitido pela entidade em três fases do empreendimento (programa, concepção e realização). Na França, desde 1990, foram certificados 50 milhões de metros quadrados, o que significa que 800 mil unidades habitacionais têm alta qualidade ambiental.

O professor Manuel Martins explica que a Certificação Aqua para os empreendedores imobiliários significa que todos os cuidados com a gestão do projeto e com o processo de construção ficam documentados e podem ser verificados. Isso inclui a eco-construção e a eco-gestão com o gerenciamento dos impactos ambientais decorrentes da relação do edifício com seu entorno, a escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos, canteiro de obras de baixo impacto, além da gestão da energia, da água, dos resíduos e da manutenção (permanência do desempenho ambiental) do edifício em uso. O Processo Aqua avalia ainda o conforto acústico, hidrotérmico, visual e olfativo da habitação e promove a qualidade do ar, da água e dos ambientes do empreendimento habitacional.

"É uma certificação baseada na verificação de um referencial técnico que atenda um conjunto requisitos de desempenho específicos e abrangentes de meio ambiente, conforto e saúde. E isso deve ser demonstrado na gestão de todas as etapas, até o produto final", destaca.

Segundo suas informações, já na primeira consulta, é disponibilizada a norma de certificação, onde os critérios são esclarecidos.

Para o consultor, o diferencial da construção civil hoje é uma preocupação mais objetiva com água energia e resíduos, áreas em que a construção civil constitui um segmento crítico, na responsabilidade de gerar produtos que comportem, ao mesmo tempo, conforto, saúde e durabilidade em busca de soluções mais eficientes e menos onerosas. Em relação aos custos, ele acredita que, se o empreendedor investir um pouco mais no desenvolvimento do projeto, o custo final certamente não será tão diferente.

"Os empreendimentos Aqua são diferenciados, já que hoje a preocupação do público com os aspectos sustentáveis é grande. O comprador sabe que terá uma habitação mais saudável e confortável, com valorização patrimonial, além de menores custos no consumo de água, energia e conservação. Hoje existem muitos empreendimentos que se dizem sustentáveis, mas não têm como demonstrar. A certificação Aqua traz um diferencial: o empresário consegue ´provar´, através da certificação, que construiu um edifício ambientalmente correto, o que contribui para gerar maior velocidade de vendas", esclarece.

A diferença entre a certificação Aqua e outras é que ela prioriza a concepção do empreendimento. O processo é flexível, pois permite ao empreendedor traçar o perfil ambiental pretendido e definir as soluções de projeto para chegar aos objetivos traçados, estabelecendo a organização, os métodos, os meios e a documentação necessária para atender ao proposto. "O Aqua, no entanto, é rigoroso e exige o atendimento a todos os critérios da Qualidade Ambiental do Edifício, além de sistema de gestão, o que não acontece com outras certificações ambientais. A avaliação e auditoria são presenciais, enquanto que em outros sistemas o empreendedor apenas envia um relatório do que fez à instituição competente. Outra grande vantagem é que se trata de uma certificação brasileira de nível internacional, com certificado emitido em 30 dias", completa.

Entre os materiais e sistemas que podem ser adotados em uma edificação residencial sustentável estão o reaproveitamento de água; a automação com vistas à redução de consumo de energia e ao conforto ambiental; a utilização de energia solar; a adoção de produtos e materiais recicláveis, entre eles, madeira certificada.

Fique por dentro

Principais normas


Nas cozinhas, deve haver a previsão das dimensões mínimas para pia, fogão, geladeira e altura da bancada.

Na gestão de energia, a norma prevê o uso de equipamentos com o Selo Procel, lâmpadas economizadoras e iluminação das áreas comuns com sensores de presença.

Nas áreas externas dos empreendimentos devem estar previstos locais para coleta de resíduos.

A produção de água quente precisa obedecer aos requisitos de distância (10 m) entre a fonte de calor e pontos de alimentação, para que haja eficiência e economia.

As caixas de descarga têm de ter capacidade de seis litros ou menos, além de dispor de mecanismos de duplo acionamento e de interrupção.

Os metais sanitários necessitam contar com componentes economizadores de água.

Os medidores de consumo de água devem ser individualizados e com determinadas características presentes na norma.

A instalação de produção coletiva de água por aquecimento solar deve ser precedida de estudo técnico detalhado, inclusive, com garantia de resultados.

Fonte: Diário do Nordeste - via PROCEL Info

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