DuPont usa a carteira de fornecedores como ferramenta para fortalecer negócios comandados por integrantes de minorias
A DuPont do Brasil gasta milhões de dólares por ano na aquisição de produtos e serviços. Uma lista que inclui desde copinhos descartáveis e insumos químicos até mão de obra para cuidar de suas rotinas administrativas. Desde 2003, no entanto, uma parte cada vez mais expressiva desse orçamento vem sendo utilizada como ferramenta para fortalecer pequenas e médias empresas geridas por integrantes de grupos historicamente desfavorecidos: índios, negros e deficientes. Esses contratos atingiram US$ 12 milhões em 2009, um salto de 2.400% em apenas seis anos. Isso não significa dizer que a aquisição de um produto ou a contratação de determinado serviço ocorra apenas para “dar uma força” a esses empreendedores. Muito pelo contrário. “Não existe espaço para paternalismo. O que fazemos é viabilizar o desenvolvimento sustentável dessas empresas”, destaca Antonio Silva, líder de compras da DuPont do Brasil. Para entrar no cadastro de fornecedores da companhia é preciso passar por um rigoroso exame em que o preço competitivo e a qualidade têm peso decisivo. E é exatamente neste ponto que o programa é mais inovador. Antes de introduzir a questão da diversidade em sua carteira de fornecedores, a diretoria da DuPont procurou investir na capacitação desse contingente. Em parceria com outras gigantes americanas e brasileiras (IBM, Delta Airlines, Lexmark e Grupo Orsa), a DuPont bancou o surgimento do Integrare – instituição destinada a treinar e inserir pequenos empresários no cadastro das grandes corporações.
Trata-se de uma experiência baseada no bem-sucedido trabalho desenvolvido pela americana National Minority Supplier Development Council (NMSDC), que movimenta a incrível cifra de US$ 80 bilhões por ano. Por aqui, o montante ainda é modesto, de acordo com Jeferson Marques da Silva, presidente do Integrare. “Em dez anos o volume de negócios gerados a partir da entidade somou US$ 60 milhões”, afirma. A experiência tem se mostrado proveitosa para os dois lados. Foi graças a uma pequena fornecedora que a DuPont conseguiu nacionalizar a bomba pneumática usada na fabricação de gases para refrigeração. O projeto foi desenvolvido pela Valfer Engenharia, comandada pelo deficiente físico Péricles Ferrão. Hoje, ele vende o produto também para montadoras de veículos. Outro que viu nesse programa um passaporte para o crescimento foi Ricardo Hesselbach – que apesar do nome é descendente de índios tupi-guarani. Sua pequena empresa de terceirização de pessoal nas áreas contábil e fiscal tinha apenas 15 funcionários no início da década. Hoje, a Hesselbach Company fatura R$ 15 milhões, emprega 280 pessoas e a meta é chegar a 400 colaboradores em 2010. “A parceria com uma grande corporação foi fundamental para a minha ascensão empresarial”, diz Hesselbach.
Silva, da DuPont, reconhece que o sucesso do projeto está intimamente ligado ao comprometimento do alto escalão da corporação. O principal desafio nunca foi o tamanho das empresas parceiras, mas sim fazer com que os colaboradores da DuPont entendessem a importância de inserir integrantes de grupos tradicionalmente excluídos. “Os funcionários estavam acostumados a lidar com um perfil único de fornecedor e foi preciso quebrar alguns paradigmas”, conta. Ele já está quebrado.
Fonte: IstoÉ Dinheiro - 06/10/2010
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