25 de mai. de 2012

A pegada ecológica do seu bicho


Visualize a cena: você em sua casa abre uma embalagem e coloca na vasilha o alimento para seu cão ou gato. Parece simples e fofo, não é? Na verdade esse gesto é mais do que servir uma porção de ingredientes selecionados e combinados, com todos os nutrientes que o bichinho precisa.

Ele é o passo final de um longo processo de consumo de energia que começou lá no pasto e na plantação, passou por serviços de pessoas e máquinas, utilizou diversos materiais e teve várias etapas de transporte antes de chegar ao seu destino final.
É isso: a produção industrial de rações para cães e gatos é uma atividade que requer, como tantas outras, grande quantidade de energia o que significa que ela tem uma grande pegada de carbono. Ou seja, deixa atrás de si uma quantia considerável de emissão de gases do efeito estufa. Sim, a questão ecológica afeta a tudo e a todos e, sendo assim, nem as refeições dos animais de estimação ficam de fora.
Já em 2009 quando foi publicado o livro "Hora de comer o cão? Um guia real para viver de forma sustentável" (Ed.: Thames e Hudson), nós - as pessoas que gostam da natureza e de animais de estimação - nos assustamos com a afirmação dos autores de que um cão grande tem pegada de carbono maior do que a de um carro.
Uma forma de manter essa pegada de carbono das rações sob controle é a indústria continuar utilizando co-produtos do abate de animais e da produção de grãos para consumo humano.
O uso de ingredientes como farinha de vísceras de frango, farinha de carne e ossos e farelo de trigo proporciona um aproveitamento melhor dos itens, além de evitar que tudo isso, ao ser descartado, polua o ambiente. Com essa prática, o processo como um todo gera menor impacto ambiental e os cães e gatos recebem alimento perfeitamente adequado.
Ultimamente, no entanto, a questão se complicou. Alguns donos de animais de estimação, além de gostarem de seus bichinhos, inconscientemente os humanizam. Sendo assim, não querem servir a eles rins, pulmão e farelo de arroz, ainda que a ciência informe que estes têm valor nutritivo. Querem servir filé-mignon com arroz integral.
Já há quem queira cozinhar em casa para seu amigo peludo, apesar de ser trabalhoso. É necessário fazer compras especificamente para o animal - não fornecer restos das refeições humanas - e seguir à risca a orientação de um profissional que tenha formulado a dieta.
O problema é que esta prática possivelmente resultará em pegada de carbono ainda maior devido aos ingredientes utilizados e por ser atividade individual, já que cada animal terá seu cozinheiro particular.
Se a indústria de rações, pressionada por estes consumidores, não mais usar os co-produtos, mas apenas as partes dos cereais e dos animais que hoje são consumidos apenas por seres humanos, precisaremos de um monte de grãos e de animais extras. Haja Amazônia para ser desmatada e dar lugar a tudo isso!
Não é por acaso que o assunto foi tema de três palestras no III Congresso Internacional de Nutrição de Animais de Estimação, promovido pelo Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA) no início de maio, em São Paulo. Alguns dilemas vão parar no divã do analista. Outros desembocam em congressos técnico-científicos. Parece ser este o caso.

Cristiana Prada é médica veterinária

Fonte:  Brasil Econômico

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