5 de abr. de 2012

Casca da banana sai do lixo para limpar rios

Houve uma época em que todas as cascas de banana da casa da química Milena Boniolo, 30, eram guardadas. Nas mãos da então mestranda, a matéria-prima era transformada em uma arma para despoluir águas contaminadas por metais pesados, como chumbo.

Milena Boniolo, que pesquisou em laboratório o uso da casca da banana para tratamento de efluentes

A ideia de produzir algo para tratar efluentes era antiga. A pesquisadora já havia trabalhado com fibras de coco verde e nanotecnologia. O primeiro, diz ela, muitas vezes, mofava no processo. O segundo era caro demais para ser aplicado em larga escala.

Que outro material pode ser reciclado e é barato e simples de encontrar em todo o país?, questionou. A resposta estava no lixo de sua casa --o irmão, jogador de futebol, consumia bananas frequentemente. No país, a produção anual é de 6,9 milhões de toneladas por ano, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).

Levou a proposta de estudo para o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e bateu o pé para que o projeto fosse aceito. "Não era o formato de pesquisa que a gente tinha lá, mas fiz o teste várias vezes para mostrar que era possível."

Para conseguir resultados, cortava as cascas e as deixava em temperatura ambiente --de aproximadamente 25º C-- por cerca de uma semana. Depois, triturava e peneirava o material.

O pó era misturado a uma solução com urânio por 40 minutos e o indice de remoção do metal chegava a, no mínimo, 65%. Bastavam 5 mg da farofa para despoluir 100 ml de água, segundo ela. Boniolo, que usou banana nanica "porque tinha muita em casa", diz que os resultados são semelhantes com qualquer variedade da fruta.

O princípio da atração dos materiais, explica, é simples. O processado da casca da fruta tem carga positiva e os metais pesados, negativa. Quando colocados juntos, eles se unem.

REUTILIZÁVEL

Mas podem se separar. Depois de processados, os metais --que chegam a causar problemas neurológicos e câncer-- podem ser reutilizados, voltando para a cadeia produtiva. Eles são usados em indústrias como a metalúrgica.

A pesquisa de Boniolo despertou o interesse de instituições internacionais. Foi convidada a palestrar nas universidades Oxford, na Inglaterra, e da Califórnia, em Irvine, nos EUA. Empresas também a contataram.

"Quando as indústrias procuram, já estão com uma área contaminada e querem o trabalho para ontem", conta ela. Mas faltava a fórmula para adequar os resultados de experimentos feitos "em uma bancada de laboratório", em que são usados mililítros, a grandes volumes.

A solução deve vir do doutorado. Boniolo está no primeiro ano na Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). "Sustentabilidade é cooperação, tem que haver interdependência entre academia, governo, empresas."

Fonte: Folha

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